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  • sexta-feira, 30 de outubro de 2015

    PERANTE A ANCESTRAL DEFERÊNCIA AOS “FINADOS” (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    Segundo Leon Denis, o sentimento de cultuar os mortos foi moldado a partir de época bem remota e está sedimentado em quase todas as tendências religiosas. Para o autor de “Depois da morte” a comemoração dos mortos é um legado dos celtas. Porém os gauleses “em vez de comemorar nos cemitérios, entre túmulos, era no lar que eles celebravam a lembrança dos amigos afastados, mas não perdidos, que eles evocavam a memória dos espíritos amados que algumas vezes de manifestavam por meio das druidisas e dos bardos inspirados". [1]

    Assim, não veneravam os restos cadavéricos, mas a alma sobrevivente, e era na intimidade de cada habitação que celebravam a lembrança de seus mortos, longe das catacumbas, diferentemente dos povos primitivos. A Festa dos Espíritos era de suma importância para eles, pois homenageavam Samhain, "O Senhor da Morte", festividade, essa, iniciada sempre na noite anterior a 1º de novembro, ou seja, no dia 31 de outubro. 

    Os romanos expulsaram e destroçaram os druidas impondo o famigerado “cristianismo clérigo” (ou colérico ?). Esse período histórico de frenética agitação, mais tarde foi mutilado pelos bárbaros, sobrevindo uma madrugada de dez séculos (a indigesta Idade Média), que proscreveu o espiritualismo e entronizou a superstição, o sobrenatural, o milagre, a beatificação, a santificação e o decisivo entorpecimento da consciência humana.

    A história oficial da Igreja romana registra que foi no Mosteiro beneditino de Cluny, no sul da França, no ano de 998, que o Abade Odilon promovia a celebração do dia 2 de novembro, em memória dos mortos, dentro de uma perspectiva catolicista. Somente em 1311 foi sancionada, em Roma, oficialmente, a memória dos falecidos, porém foi Bento XV quem universalizou tal celebração, em l915, dentre os católicos, cuja expansão da religião auxiliou, ainda mais, a difusão desse costume.

    A legislação vigente no Brasil estabelece o dia 2 de novembro como feriado nacional, para que as pessoas possam homenagear seus “mortos”. Obviamente devemos respeitar os desencarnados como um impositivo do amor e da fraternidade, sem que precisemos consolidar esses nobres sentimentos diante dos túmulos, nem que nossas lembranças ou homenagens sejam realizadas em um dia especial, oficialmente estabelecido.

    Nos dias de hoje, essa celebração se desviou, e muito, do ritual “religioso”, transportando-se do foco sentimental e emocional para o mercantil, uma vez que a comercialização de flores, velas, santinhos, escapulários e a eventual preocupação para a conservação dos túmulos (normalmente, só são lembrados em novembro) respondem por esse protocolo social. 

    O esplendor dos túmulos fúnebres determinada por parentes que desejam honrar a memória do falecido, ainda compõem o cardápio da soberba e orgulho dos parentes, que psicologicamente visam primeiramente “honrarem-se” a si mesmos. Nem sempre é pelo “finado” que se fazem todas essas demonstrações, mas por empáfia, por apreço ao mundo e à vezes para exibição de riqueza. Ora, é inútil o endinheirado aventurar-se em eternizar a sua memória por meio de magnificentes mausoléus. 

    Recebemos sábias lições dos Benfeitores sobre funerais e celebração em memória dos "mortos", senão vejamos: os Espíritos Superiores afirmam que os chamados "mortos" são sensíveis à saudade dos que os amavam na Terra e que, de alguma forma, " a sua lembrança aumenta-lhes a felicidade, se são felizes, e se são infelizes, serve-lhes de alívio."[2] Porém, em se referindo ao dia dos "finados", atestam que é um dia como outro qualquer, até porque os espíritos são sensíveis aos nossos pensamentos, não às solenidades humanas. No dia dos finados eles só " reúnem-se em maior número, porque maior é o número de pessoas que os chamam. Mas cada um só comparece em atenção aos seus amigos, e não pela multidão dos indiferentes."[3]

    A tradicional visita ao túmulo, em massa, não significa que venha trazer satisfação ao "morto", até porque uma prece feita em sua intenção vale mais. É bem verdade que a " visita ao túmulo é uma maneira de manifestar que se pensa no Espírito ausente: é a exteriorização desse fato (...) mas é a prece que santifica o ato de lembrar; pouco importa o lugar se a lembrança é ditada pelo coração. "[4] Conhecemos pessoas (aliás muitas delas) que solicitam, antes mesmo de morrerem, que sejam enterradas em tal ou qual cemitério. Essa atitude, sem sombra de dúvida, demonstra inferioridade moral. "O que representa um pedaço de terra, mais do que outro, para o Espírito elevado?"[5]

    Reflitamos juntos: o dia de “finados” é consagrado aos falecidos libertos ou aos mortos que ainda estão jungidos à vida material? Existem duas possibilidades de mortos: os que se sentem totalmente livres do arcabouço carnal, porém "vivos" para uma vida espiritual plena, e os que permanecem com a sensação de que, ainda, estão encarnados, porém "mortos" para a vida física, pois somente vivenciam, na espiritualidade, a vida animal. " Para o mundo, mortos são os que despiram a carne; para Jesus, são os que vivem imersos na matéria, alheios à vida primitiva que é a espiritual. É o que explica aquele célebre ensinamento evangélico, em que a pessoa prontificou-se a seguir o Mestre, mas antes queria enterrar seu pai que havia falecido, e Jesus conclamou" [6] - "Deixai aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos, tu, porém, vai anunciar o Reino de Deus".[7]

    É óbvio que "faz sentido rememorar com alegria e não lastimar os que já partiram, e que estão plenamente vivos. Finados é uma mistura de alegria e dor, de presença-ausência, de festa e saudade. Aos que ficamos por aqui, cabe-nos refletir e celebrar a vida com amor e ternura, para depois, quiçá, não amargar no remorso. Aos que partiram, nossa prece, nossa gratidão, nossa saudade, nosso carinho, nosso amor!" [8]

    Se formos capazes de orar, com serenidade e confiança, transformando a saudade em esperança, sentiremos a presença dos parentes e amigos desencarnados entre nós, envolvendo-nos o coração com alegria e paz. Por esta razão e muitas outras, façamos do dia 2 de novembro um dia de reverência à vida, lembrando carinhosamente os que nos antecederam de retorno à pátria espiritual, e também os que conosco ainda jornadeiam pelos caminhos da existência terrena.

    Referências bibliográficas:

    [1] Denis, Leon. O gênio céltico e o mundo invisível. Rio de Janeiro: Ed.CELD. 1995. p. 180

    [2] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Perg. 320

    [3] ______, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Perg. 321

    [4] ______, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Perg. 323

    [5] ______, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Perg. 325

    [6] Disponível em http://www.feal.com.br/colunistas.php?art_id=6&col_id=9> acessado em 26/10/2015

    [7] Lucas 9: 51-62


    [8] Editorial do Jornal Mundo Espírita – novembro 2006

    terça-feira, 27 de outubro de 2015

    BANCAR AS COBIÇAS DOS FILHOS ? (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
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    Atualmente paira sobre as famílias modernas uma grave ameaça em torno da cultura do prazer. O instituto familiar necessita de grande choque de modelo e, sobretudo, de muito apoio religioso para alcançar seu equilíbrio moral. Infelizmente, muitos pais querem que os filhos tenham prazer sem responsabilidade. 

    O estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que a maioria das mães não resiste às solicitações dos filhos quando eles exigem a compra de brinquedos, roupas e doces. A rigor, muitas crianças tem noção sobre quais astúcias utilizar para persuadir seus pais a comprarem o que elas querem. 

    Muitas vezes, os rogos “ingênuos” aparecem em forma de pirraça, intimidação, choradeira, induzindo alguns pais à sujeição. Contudo, ceder a todas as vontades dos filhos (no caso das compras) pode não apenas desequilibrar o orçamento familiar e levar os pais a contrair dívidas, porém também pode contribuir para instalar nas crianças uma série de comportamentos inadequados e tornar os filhos manipuladores e menos tolerantes à frustração, prejudicando seu desenvolvimento e suas relações sociais presentes e futuras. 

    Concordamos que uma das estratégias para evitar contendas com os filhos durante as compras pode ser combinar regras sobre o que poderá ou não ser comprado antes do passeio. Para que essa solução seja eficiente, a mãe deve ser clara e firme na hora do acordo. Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto às más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo, amando-os, independentemente, de como se situam na escala evolutiva. Devemos transmitir segurança aos filhos através do afeto e do carinho constantes. Afinal, todo ser humano necessita ser amado, gostado, mesmo tendo consciência de seus defeitos, dificuldades e de suas reais diferenças.

    A regra é clara, ninguém em casa pode fazer aquilo que não se pode fazer na sociedade. É preciso impor a obrigação de que o filho faça isso, deste modo, cria-se a noção de que ele tem que participar da vida comunitária. Um detalhe é muito importante: os espíritas sabem que a fase infantil, em sua primeira etapa (dos 0 aos 7 anos), é a mais importante para a educação, e não podemos relaxar na orientação dos filhos, nas grandes revelações da vida. Sob nenhuma hipótese, essa primeira etapa reencarnatória deve ser enfrentada com indiferença e ou insensibilidade. 

    Principalmente a mãe que “deve ser o expoente divino de toda a compreensão espiritual e de todos os sacrifícios pela paz da família. A mãe terrestre deve compreender, antes de tudo, que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus. Desde a infância, deve prepará-los para o trabalho e para a luta que os espera. Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Ensinará a tolerância mais pura, mas não desdenhará a energia quando seja necessária no processo da educação, reconhecida a heterogeneidade das tendências e a diversidade dos temperamentos.”.(1)

    Para Emmanuel a mãe “não deve dar razão a qualquer queixa dos filhos, sem exame desapaixonado e meticuloso das questões, levantando-lhes os sentimentos para Deus, sem permitir que estacionem na futilidade ou nos prejuízos morais das situações transitórias do mundo. Na hipótese de fracassarem todas as suas dedicações e renúncias, compete às mães incompreendidas entregar o fruto de seus labores a Deus, prescindindo de qualquer julgamento do mundo, pois que o Pai de Misericórdia saberá apreciar os seus sacrifícios e abençoará as suas penas, no instituto sagrado da vida familiar.”.(2)

    Os filhos rebeldes são filhos de nossas próprias obras, em vidas anteriores, cuja Bondade de Deus, agora, concede a possibilidade de se unir a nós pelos laços da consanguinidade, dando-nos a estupenda chance de resgate, reparação e os serviços árduos da educação. Dessa forma, diante dos filhos insurgentes e indisciplináveis, impenetráveis a todos os processos educativos, “os pais depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de orientação deles, é justo que esperem a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da compreensão e do sentimento.”.(3)

    Os pais, após esgotar todos os recursos a bem dos filhos e depois da prática sincera de todos os processos amorosos e enérgicos pela sua formação espiritual, sem êxito algum, “devem entregá-los a Deus, de modo que sejam naturalmente trabalhados pelos processos tristes e violentos da educação do mundo. A dor tem possibilidades desconhecidas para penetrar os espíritos, onde a linfa do amor não conseguiu brotar, não obstante o serviço inestimável do afeto paternal, humano. Eis a razão pela qual, em certas circunstâncias da vida, faz-se mister que os pais estejam revestidos de suprema resignação, reconhecendo no sofrimento que persegue os filhos a manifestação de uma bondade superior, cujo buril oculto, constituído por sofrimentos, remodela e aperfeiçoa com vistas ao futuro espiritual.”.(4)

    O Espiritismo não propõe soluções específicas, reprimindo ou regulamentando cada atitude, nem dita fórmulas mágicas de bom comportamento aos jovens. Prefere acatar, em toda sua amplitude, os dispositivos da lei divina, que asseguram, a todos, o direito de escolha (o livre-arbítrio) e a responsabilidade consequente de seus atos. Por todas essas razões, precisamos aprender a servir e perdoar; socorrer e ajudar os filhos entre as paredes do lar, sustentando o equilíbrio dos corações que se nos associam à existência e, se nos entregarmos realmente no combate à deserção do bem, reconheceremos os prodígios que se obtêm dos pequenos sacrifícios em casa por bases da terapêutica do amor.

    Em últimas instancias quando os filhos são rebeldes e incorrigíveis, impermeáveis a todos os processos educativos, "os pais, depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de orientação educativa dos filhos, sem descontinuidade da dedicação e do sacrifício, que esperem a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da compreensão e do sentimento."(5)

    Referências bibliográfica:

    (1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, per. 189

    (2) Idem per. 189

    (3) Idem per. 190

    (4) Idem per. 191

    (5) Idem per. 190

    terça-feira, 20 de outubro de 2015

    UMBANDA E ESPIRITISMO CRISTÃO NUMA AVALIAÇÃO OPORTUNA (Jorge Hessen)


    Confrades solicitaram-me comentar novamente sobre a tendência umbandista nas instituições espíritas cristãs. Disseram-me que muitos centros “espíritas”, localizados no planalto central, possuem dirigentes, trabalhadores e frequentadores que ainda não se desataviaram dos ritos umbandizantes. São frequentadores, médiuns e doutrinadores que não conseguem se livrar das entidades de “terreiro”. Como se não bastasse, há os que elegem na instituição espírita cristã “mentores ou mentoras” de espíritos impregnados dos atavismos psicológicos de “vovós sicranas” ou “vovôs beltranas”, ou veneram “ex” “preto(as) velhos(as)” etc., como se tais “entidades” fossem campeãs da humildade. Nada mais inconsistente! E não se podem comparar tais “entes” com os sensatos espíritos que se apresentaram como “ex-padres” e “ex-freiras” na concepção da Codificação Espírita.

    A rigor, os cognominados “vós fulanas”, “vôs fulanos”, “pretos(as) velhos(as)”, “índios”, “caboclos” e semelhados, quando desencarnados, não mais pertencem a quaisquer das distintas raças humanas terrenas. No além-túmulo, o espírito não é amarelo, nem vermelho, nem negro, nem branco, embora possa apresentar em seu perispírito distinções de alguma raça, idade, se ainda assim se sentir em face da limitação moral e intelectual e ou assim se conceber, como sucedeu numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em que Allan Kardec dialogou com um Espírito de um “velhinho” (Pai César), episódio narrado na “Revista Espírita” de junho de 1859.

    A entidade disse a Kardec que havia desencarnado em 8 de fevereiro de 1859, com 138 anos de idade. Tal fato [idade] chamou a atenção do Codificador, que logo se interessou em obter, da Espiritualidade, mais informações sobre o falecido. O “velhinho” disse que havia nascido na África e tinha sido levado para Louisiana [EUA] quando tinha apenas 15 anos. Desabafou, expondo a todos as mágoas guardadas em seu coração, fruto dos sofrimentos por que passara na Terra em função do preconceito da época. E tamanhas eram as feridas que trazia no peito que chegou a dizer a Kardec que não gostaria de voltar à Terra novamente como negro.

    Será que um “vovô”, uma “vovó”, um(a) preto(a) velho(a), pode ser mentor(a) espiritual de uma casa espírita cristã? Em que pese considerar estranhíssima essa situação, talvez sim! Quem sabe possa uma dessas entidades, através de suas palavras e atos, mostrar que é digna desse título, se demonstrar conhecimentos doutrinários superiores aos nossos a fim de nos orientar e manifesto amor para nos exemplificar. Porém, não! se evidenciar insuficiente cultura, pouca evolução espiritual e muito apego ainda às sensações materiais (exigir os títulos de “vovô”, “vovó”, preto(a) velho(a), linguajar primário, argumentos infantis, raciocínio vagaroso, etc.

    A maioria absoluta das comunicações de pretos-velhos como “mentores espirituais” de uma instituição genuinamente espirita cristã é resultado da insipiente sugestão mediúnica, do incabível animismo, ou dos ardis psicológicos e das teimosas mistificações. Pessoalmente não aprovo nem compreendo a manifestação de um “Bezerra de Menezes” travestido de velhinho caquético com voz de “defunto”. Creio que há animismo nesse “transe” ou vício psicológico do “intermediário”.

    Não desconhecemos que houve, seguramente, espíritos bondosos que encarnaram entre os negros africanos para inspirar aquele povo sofrido, de modo sábio e amoroso, durante o seu cativeiro. Alguns deles, após a morte, certamente tenham podido regressar à retaguarda terrena, por amor ao próprio crescimento espiritual no serviço do bem. Mas não foram numerosos tais espíritos “bonzinhos”, “humildezinhos”; pela lógica, foram raros, porque quase a totalidade dos escravos eram como nós: espíritos de mediana ou pouquíssima evolução.

    Há obsessores (e não são poucos) que fingem essa aparência e linguajar (de entes de “terreiros”) com o objetivo de iludir e manter sob hipnose os espíritas ignorantes. Diante desses perspicazes seres do além (às vezes tão-somente produto da mente do “médium”), procuramos adverti-los, alertá-los para a responsabilidade pelos seus atos. Se não acolherem nossas advertências apelamos ao expediente da austeridade verbal e da segurança moral para que se arredem do local, exorando, por nossa vez, o amparo dos diretores espirituais da sessão.

    Nas sessões mediúnicas que dirijo há 4 décadas, se ocasionalmente há manifestação de tais espíritos (“vós”, “vôs”, “pretos(as) velhos(as)”, caboclos e correlatos), se for permitida pela espiritualidade diretora da sessão, tais espíritos são orientados adequadamente. Não permitimos qualquer intolerância ou preconceito contra eles. Entretanto, analisamos atentamente sua natureza e o conteúdo de suas comunicações, como fazemos com qualquer espírito que se manifeste no grupo. Tais espíritos, para se comunicarem mediunicamente, não precisam e nem estimulamos o uso de linguajar bizarro, incompreensível aos médiuns e aos participantes da reunião.

    O bom senso recomenda que se um desses desencarnados insistir na aparência ou linguajar momentaneamente de suas personagens do passado e deseja evidenciar sua identidade, a manifestação será admissível, se houver quem o possa identificar. Caso contrário será uma comunicação improdutiva. Se tais entidades se apresentam com atavismos da última encarnação (ex-escravos “velhos ou novos”, índios etc.) buscamos orientá-los, a fim de se libertarem desse atavismo. Assim, buscamos esclarecê-los quanto à sua real natureza de espíritos em evolução. Na doutrinação nos esforçamos para advertir-lhes que já reencarnaram diversas vezes em diferentes condições e, portanto, têm patrimônio espiritual mais vasto que um simples “velho” ou correlato de uma raça sofrida.

    Deste modo, procuramos revelar-lhes que não precisam se fixar no psiquismo da existência que concluíram, e que na vida espiritual podem continuar progredindo em todos os aspectos, até mesmo no modo de se vestir e falar. Há os que usam sutis subterfúgios, dizendo que se apresentam assim porque tal ou qual encarnação lhes foi muito grata por lhes haver permitido adquirir “virtudes”, especialmente a “humildade” e daí seu desejo em exemplificar. Óbvio que esse argumento é astucioso, pois quem conquistou a virtude da humildade não precisa trombetear e ou ostentar trejeitos de falsas modéstias. Por essa razão orientamos tais “velhinhos” que a humildade não consiste em expressões verbais e aparências exteriores nem em atitudes subservientes.

    Muitas pessoas supõem que pretos-velhos, índios e caboclos sejam serviçais para lhes atenderem aos pedidos. Outras acreditam que eles tenham poderes misteriosos, capazes de resolver de modo mágico os problemas dos consulentes. Parecem também julgá-los subornáveis, já que aceitariam agir em troca de algum “pagamento” ou compensação. Em verdade, uma evocação por rituais específicos convidam e condicionam certos espíritos a se apresentarem como preto-velhos, índios ou caboclos. E alguns espíritos, às vezes até os bonzinhos, adotam essa aparência para que assim as pessoas do meio em que se vão manifestar (“terreiro”) acolherão mais espontaneamente a sua apresentação e recomendações.

    Enfatizamos porém, que se não estimularmos esse condicionamento, muitos espíritos deixarão de se apresentar como vermelhos, pretos, brancos, velhos, novos etc. etc. etc., passando a se comunicar em seu modo próprio e natural. Muitos entendem que os “vovôs”, “vovós”, “caboclos” e “pretos-velhos” são mais eficazes. Creem que as proteções que os Espíritos normais não obtêm os tais mágicos “velhinhos” e “índios” conseguem. Nada mais bisonho!

    Sobre o linguajar de tais entes, observamos que a fala de “pretos velhos” não costuma corresponder aos legítimos dialetos africanos ou aportuguesamento deles de épocas remotas. É mais uma tagarelice, uma enrolação, uma confusão de vozes sem significado ou ligação com o que os africanos falavam. A isso classifico de mistificação. Sobre os tais caboclos, é óbvio que índios brasileiros não poderiam jamais se denominarem por exemplo “caboclos 7 flechas” (não tinham noção de número), não se autodenominariam “flecha ligeira”, “nuvem branca” etc., como o fazem os índios norte-americanos, os quais as academias de hollywood popularizaram nos filme de “bang bang”.

    Em suma, somos espíritas cristãos, e como tais devemos nos comportar e agir no dia a dia, especialmente nas sessões mediúnicas. Em boa lógica, quem não acolha ou não se encaixe nos conceitos e práticas espiritas cristãs precisa procurar diferentes recintos afins, até porque nenhuma pessoa é constrangida a ser espírita cristã.

    SEMINÁRIO: Manifestação de fundo umbandista no meio espirita
    Parte 1
    Parte 2
    Parte 3

    sexta-feira, 9 de outubro de 2015

    A AUTODESTRUIÇÃO NUMA PRECISA ANOTAÇÃO ESPÍRITA (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen


    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1 milhão de pessoas se matam por ano em todo o mundo. A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. Somente no Brasil, quase 30 pessoas se suicidam por dia, e infelizmente os números são crescentes. As maiores incidências são nos países ricos. O leste europeu registra um dos mais altos índices de suicídio proporcionalmente. Países da Ásia, como Coreia do Norte, China e Japão são os recordistas mundiais.

    Em 2014, mais de 25 mil pessoas cometeram suicídio no Japão. Isso dá uma média de 70 por dia. A maioria é de homens. O assunto voltou a ter destaque recentemente com o suicídio de um homem de 71 anos, que ateou fogo no corpo dentro de um trem bala. Para o psicólogo Wataru Nishida, da Universidade Temple, em Tóquio, a solidão na velhice é o fator número um que antecede a depressão e o suicídio. Tese que encontra respaldo em John Cacioppo, cientista e professor de psicologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que sugere ser o isolamento um fator impactante para acelerar o extermínio “prematuro” do idoso solitário. Para Cacioppo há fatores de risco em face do sentimento de solidão, dentre os quais estão a interrupção frequente do sono, elevação da pressão arterial, aumento do cortisol (hormônio do estresse), alterações no sistema imunológico e aumento da depressão. [1]

    Talvez realmente a solidão seja preocupante enfermidade dos dias de hoje. Mas não são apenas os idosos homens com problemas pessoais que estão tirando suas vidas. O índice vem crescendo rapidamente entre homens jovens, fazendo com que o suicídio seja a principal causa de morte entre os homens japoneses com idades entre 20 e 40 anos. E as evidências apontam que estes jovens estão se matando porque perderam completamente a esperança e são incapazes de pedir ajuda. [2]

    Para alguns pesquisadores as causas do suicídio podem estar relacionadas a distúrbios psicossociais, como exclusão, dependência química, desesperança e traumas emocionais. Não raro, o suicídio é tido como consequência da depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, anorexia e desvios de personalidade. E os especialistas procuram responder o que leva o ser humano a desrespeitar o seu instinto de autopreservação.

    Sob a tese sociológica, o escritor francês Albert Camus, no seu livro intitulado “O Mito de Sísifo” defende a tese que só existe um problema filosófico realmente grave: o suicídio - Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder a questão de filosofia. Que o confirmem os peculiares escritores Artur Shopenhauer no seu macabro livro “As Dores do Mundo”, que induz o leitor fragilizado ao suicídio, e Friederich Nietzsche, que em “Assim Falava Zaratustra” afirma que orar é vergonhoso. Emille Durkhein, um dos maiores pesquisadores das teses suicidógenas, afirma que a culpa maior para uma pessoa cometer um ato tão extremo, de vencer o próprio instinto de conservação é da sociedade, que é a grande pressionadora para esse ato extremo do homem - é o ser psicológico sendo abatido pelo ser social.

    Os Espíritos explicam que o adiamento de uma dívida moral significa reencontrá-la mais tarde com juros somados com cobrança sem moratória. A vida na Terra foi dada como prova e expiação e depende de cada um lutar com unhas e dentes para ser feliz o quanto puder, amenizando as suas dores com amor. [3] Como explicar o descontentamento da vida que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos? Certamente é resultado da ociosidade, da falta de fé, e também da saciedade. É óbvio que ninguém tem o direito de acabar com a própria vida. O suicídio é uma grave transgressão às leis de Deus.

    O suicídio cometido por desgosto da vida é uma brutal estupidez, uma loucura. Ora, por que tais infelizes rebeldes da vida não trabalhavam para o próximo? Com certeza a existência seria menos pesada. Infelizes são os que não têm a coragem de suportar as adversidades da existência. Deus ajuda os que sofrem e não os que carecem de energia e de coragem. As consternações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados. O suicídio é resultado da ociosidade, da falta de fé, e geralmente da saciedade. [4]

    Referência bibliográficas:

    [1] Disponível em http://oglobo.globo.com/saude/solidao-aumenta-em-14-as-chances-de-idosos-morrerem-de-forma-prematura-11609030#ixzz2yAIPeewV ,acesso em 05/10/2015

    [2] Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150705_japao_suicidio_rb , acesso em 07/10/2015

    [3] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 920, RJ: Ed. FEB. 2000

    [4] Idem , questões de 943 a 949