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  • terça-feira, 26 de maio de 2015

    A DOR É EFEITO DE NOSSAS AÇÕES, PORTANTO NÃO EMANA DE DEUS (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen

    Se compreendêssemos melhor os mecanismos da Lei de ação e reação evitaríamos infortúnios, ambições e desonras que, definitivamente, não estariam em nosso roteiro, seríamos mais comedidos nas ações diárias. Precisamos refletir a Lei de causa e efeito com o máximo discernimento, a fim de nos conscientizarmos sobre a sua imposição rígida e fatal, que desfere tanto reparações chocantes, quanto gratificações surpreendentes, sempre, justas, judiciosas e controladas, as quais expressam a resposta da Natureza, ou da Criação, contra a desarmonia constituída ou submissões aos códigos divinos em seus suaves aspectos.

    “Quão severa e temível é a lei que rege os destinos da Criação! Os homens terrenos precisam ser avisados destas impressionantes verdades, a fim de que melhor se conduzam durante as obrigatórias travessias das existências.”[1] A Lei de ação e reação ou causa e consequência também popularizada como Lei do “carma” [2], conhecida desde às civilizações mais antigas. 

    Ninguém está sujeito ao império aleatório do “acaso”, pois este não existe. A casualidade não tem espaços nos dicionários espíritas, portanto não traz poder capaz de reger nossos destinos. É a Lei do “carma”, Lei de “causa e efeito” ou a Providência divina, que tudo ordena, corrige e atua, interferido tanto nas dimensões infinitesimais do microcosmo, como na imensidade colossal do macro universo. Tal divino ditame objetiva exclusivamente administrar o aprimoramento incessante de todas as coisas e seres que estruturam a harmonia da Lei do Criador.

    A Lei de causa e efeito tonifica a contabilidade divina com o seu saldo credor ou devedor para conosco. Os altivos regulamentos do Pai demonstram que “a semeadura é livre, mas a colheita obrigatória”, e “a cada um será dado conforme as suas obras”, portanto, não permitem exceções a ninguém, mas ajustam as criaturas à disciplina individual e coletiva, tão necessárias ao equilíbrio e harmonia da Humanidade.

    O principal meio de modificar para melhor o chamado “carma” ou conta do destino criada por nós mesmos reside no controle dos nossos desejos, pensamentos, palavras e ações, pois, à medida que nos melhorarmos, reduziremos ou modificaremos os débitos do passado e criaremos um novo “carma” para o futuro.

    Sofremos após a desencarnação os resultados de todas as imperfeições que não conseguimos corrigir na vida física. A Lei divina institui que felicidade e desdita sejam reflexos naturais do grau de pureza ou impureza moral. A completa felicidade reflete a purificação completa do Espírito, enquanto a imperfeição causa sofrimento e privação de alegria. Portanto, toda perfeição alcançada é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos. 

    Pela justiça de Deus sofremos não apenas pelo mal que fizemos mas pelo bem que deixamos de fazer seja na Terra ou no Além-túmulo. O sofrimento (expiação) varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo a mesma falta produzir expiações distintas, segundo as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida. Para a Codificação espírita não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração da penalidade: - a única lei geral é que toda falta terá punição, e todo ato meritório terá gratificação, segundo o seu valor. 

    Em face do livre arbítrio somos sempre juízes do próprio destino, podendo delongar os sofrimentos pela persistência no mal, ou atenuá-lo e até anulá-los pela prática do bem. Um dos mecanismos que suavizam o sofrimento é a contrição. Entretanto não nos basta o arrependimento, pois são imprescindíveis a expiação e a reparação. Allan Kardec explana o seguinte: “arrependimento, expiação e reparação constituem as três condições necessárias para aplacar os traços de uma falta e suas implicações. O arrependimento suaviza os amargores da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito distraindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.”[3] 

    O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo. Até que os últimos vestígios da falta desapareçam, a expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal. A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Em que pese a diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, a Lei de Deus estabelece que o sofrimento seja inerente à imperfeição. 

    Toda imperfeição, assim como toda falta dela decorrente, traz consigo a própria punição nas consequências naturais e inevitáveis. Assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo. Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade. A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra: - tal é a lei da Justiça Divina. [4]

    Referências bibliográficas:

    [1] Pereira, Ivone. Dramas da Obsessão, ditado pelo espírito Bezerra de Menezes, RJ: Ed. FEB, 2004

    [2] Expressão hinduísta exprimindo o efeito que nossas ações geram no futuro (tanto nesta como em outras encarnações) 

    [3] Kardec, Allan. O Céu e o Inferno, As penas futuras segundo o espiritismo, seção: código penal da vida futura, RJ: Ed. FEB 1977

    [4] Idem

    segunda-feira, 18 de maio de 2015

    ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

    A Federação Espírita Brasileira (FEB) elegeu no dia 21 de março de 2015 o novo presidente, trata-se do companheiro Jorge Godinho Barreto Nery(foto), membro efetivo do Conselho Superior da instituição.
    Jorge Godinho presidiu o Centro Espírita Léon Denis, no Rio de Janeiro, na década de 1970. Profissionalmente, serviu por 48 anos à Força Aérea Brasileira (FAB), em que atingiu o posto de Tenente Brigadeiro, atualmente na reserva.
    O presidente eleito discorre sobre vários assuntos, alguns deles claramente polêmicos(*), conforme a entrevista abaixo publicada NA ÍNTEGRA.


    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Os princípios institucionalizados (burocratizados) da Unificação inibem o ideário da “UNIÃO” espontânea entre os espíritas? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - O ideário da União, como afirmado, é espontâneo,  ou seja, é opção da livre determinação do ser humano, especificamente, dos espíritas. Desta forma, cada um de nós expressamos este sentimento por opção, mas Jesus, nosso Mestre e Guia, convida aos que desejam ser seus discípulos à prática desse ideário da UNIÃO, quando nos recomenda: “Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem.” Se auguramos ser discípulos do Cristo, então, o ideário de “UNIÃO” será mantido em qualquer circunstância.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - O modelo federativo é importante, porém boa parte dos dirigentes de casas espíritas nem sempre valorizam as ações dos órgãos de Unificação, atribuindo-lhes caráter meramente administrativo, burocrático, com pouco sentido prático. Considerando a sua experiência doutrinária, quais as ações que pretende desenvolver para aproximar a FEB das casas Espíritas?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Antes, ressalto que a organização federativa não é só importante, é o programa ideal da Doutrina Espírita no Brasil. É para a grande obra de unificação que a FEB envida todos os seus esforços, objetivando a vitória de Ismael nos corações. Entretanto, respeitando a livre determinação individual, procuraremos sempre atenuar o vigor das dissensões esterilizadoras, para nos unirmos na tarefa impessoal e comum de educar o pensamento do homem no Evangelho. 

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - O “Pacto Áureo” ainda pode ser avaliado como o grande marco da Unificação? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - É o Pacto Áureo a expressão mais lúcida de entendimento e concórdia entre  os espíritas, que podem divergir nas discussões das ideias, mas que não devem fazer da divergência motivo de discórdia, intolerância e incompreensão. O Pacto Áureo veio compatibilizar a vivência da Doutrina dentro do princípio da liberdade, sem jamais deixar de considerar o amor fraterno, a união e a Unificação. Ele foi e será sempre o grande marco da Unificação que consolidou os esforços iniciais de Bezerra de Menezes.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - O livro inspirador do “Pacto” -“Brasil coração do mundo...” conseguirá “UNIR” o Movimento Espírita Brasileiro ? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - O Livro “Brasil coração do mundo, pátria do evangelho” veio esclarecer as origens remotas da formação da Pátria do Evangelho com informações colhidas nas tradições do mundo espiritual e se destina a explicar a missão do Brasil no mundo moderno. Dessa forma, quando folheamos suas belas páginas e verificamos que o Brasil está destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta e a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e fé raciocinada fica a dedução lógica de que essa tarefa não pode ser uma obra individual ou de personalismos incabíveis, mas daqueles que se propõem a estarem unidos e unificados no Evangelho do Senhor. (*)

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Quais os grandes desafios vistos para o Movimento Espírita Brasileiro? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Consolidar a manutenção da União e da fraternidade.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Diante da clara divisão que existe no Movimento Espírita, muitas vezes manifestada em posturas emocionalizadas e radicais, como a FEB deve conduzir objetiva  e publicamente o tema Roustaing? Que iniciativas faltam para apaziguar ânimos? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Não devemos esquecer que no Capítulo 22 do Livro “Brasil Coração do mundo pátria do evangelho”,  o espírito Humberto de Campos narra que Jesus destacou um dos Seus grandes discípulos, Allan Kardec, para vir à Terra com a tarefa de organizar e compilar ensinamentos que seriam revelados, oferecendo um método de observação a todos os estudiosos do tempo e que o grande missionário, no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de João Batista Roustaing, que organizaria o trabalho da fé; de Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a estrada científica e de Camille Flammarion, que abriria a cortina dos mundos, desenhando as maravilhas das paisagens celestes, cooperando assim na codificação kardeciana no Velho Mundo e dilatando-a com os necessários complementos. (*)

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - As obras de Roustaing permanecerão sendo republicadas? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Sim. Jamais a FEB deixou de publica-las, desde a sua primeira edição. Não podemos olvidar que Allan Kardec, dentro da lucidez e do espírito de grandeza que o caracterizam afirmou: proibir a leitura de um livro é dar mostras de que o tememos. A Doutrina Espírita é, por natureza, a doutrina da liberdade, da livre-escolha, nada impõe, nada proíbe. O apóstolo Paulo já recomendava em seu tempo: lede tudo e retende o que for bom. (*)

    Jorge Hessen(“A luz na mente”)-Como a Casa-Mater do Espiritismo deve enfrentar e proceder ante a proliferação de livros “doutrinários” de conteúdos confusos, especialmente pela Internet? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - De acordo com o Evangelho. Respeitando, a liberdade de pensar e de agir, já que cada um é responsável pelos seus atos e pela sua administração.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Considerando que sobre a FEB repousam muitas esperanças, mas também expectativas, como atuará para se aproximar dos espíritas carentes e pouco instruídos na educação formal, dado que representam expressivo estrato da sociedade brasileira? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Pelo trabalho exercido com humildade e amor, na ação pacífica de educação das criaturas na prática genuína do bem e no exercício da caridade como entendia Jesus, conforme expresso na questão nº 886 de O Livro dos Espíritos: "Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas".

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - A inclusão digital apresenta-se como meio propício para que os conteúdos das obras básicas e obras complementares, veiculados pela internet, a fim de que cheguem aos espíritas carentes com evidentes benefícios. Como a FEB poderia auxiliar os Centros Espíritas de periferia nessa questão?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Disponibilizando o acesso a essas obras pelas mais variadas mídias e meios de comunicação existentes e apoiando o Movimento espírita nas ações de auxílio e apoio aos Centros Espíritas.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Será que livros gratuitos na internet gerariam impacto financeiro, em se tratando de uma prática comum atualmente?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - É um tema a ser apreciado. Esta iniciativa a FEB já tomou quando disponibiliza obras para download em seu portal. 

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Será que os livros virtuais não dariam maior visibilidade ao portal da FEB, ou seja, não tornaria o site uma robusta ferramenta de divulgação da Nova Luz para o mundo? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Este é um assunto em estudo na FEB e que merece atenção, porque vem ao encontro da sua finalidade: estudar, vivenciar e divulgar a Doutrina Espírita. Para maiores esclarecimentos, a FEB já mantém um catálogo de e-books de mais de 120 títulos, que será ampliado a cada semana, com a disponibilização de outros títulos, como forma alternativa de acessibilidade ao conteúdo espírita. 

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Allan Kardec comenta no item 334, cap. XXIX, d´O Livro dos Médiuns, que a formação do núcleo da grande família espírita um dia consorciaria todas as opiniões e uniria os homens por um único sentimento: o da fraternidade. Estaria aqui o Codificador formulando alguma programação doutrinária visando à unidade dos espíritas por intermédio de instituições colegiadas?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Entendo que o Codificador, nesse ponto, traz o cunho da caridade cristã, ao alertar os espíritas desejosos de se instruírem e vivenciarem os ensinos dos Espíritos a se unirem pelo sentimento de fraternidade, formando um núcleo da grande família espírita pelos laços da caridade.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Na condição de recém-eleito presidente da FEB, considerando o desígnio da “UNIÃO”, e compreendendo que vários membros do CFN tinham a esperança da reeleição do Antônio Cesar Perri, quais as estratégias a serem adotados visando asserenar e aglutinar tais membros do CFN?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Paciência e serenidade; humildade e amor; sacrifício e devotamento; paz e resignação.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - A saída do ex-presidente da FEB comprometerá a coordenação do projeto do CEI? Os novos dirigentes estão em sintonia com o trabalho que o CEI vem realizando?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - As instituições permanecem com seus objetivos e finalidades, as pessoas são transitórias e, portanto, os novos dirigentes conscientes desta realidade procurarão a sintonia com o trabalho que vem sendo desenvolvido.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - O irmão pretende partilhar com a comunidade espírita, na forma de consultas, audiências ou outros canais de comunicação, com o intuito de colher subsídios para tratar de matérias e temas importantes para o Movimento Espírita, além, obviamente, dos canais e mecanismos formais já existentes?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Estaremos sempre abertos às contribuições que tratem de temas importantes emanadas de todos aqueles que desejam traze-las pessoalmente ou por intermédio dos meios disponíveis de comunicação. 

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Como a FEB deve administrar as questões filosóficas e científicas dos fenômenos metafísicos junto às academias e a outras fontes de conhecimento da atualidade? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Não interferindo, nem cerceando a liberdade de pensar e agir de quem quer que seja.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Com o crescente surgimento dessas entidades especializadas (Associação espírita de médicos, juízes, jornalistas, psicólogos etc.) como deve se posicionar a FEB, considerando o aspecto restritivo e até elitista dessas entidades? Aceitar e incentivar, acreditando que se trata de um evento imprescindível?

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Quanto a este aspecto a FEB tem posição clara e definida em seu Estatuto ao contemplar dispositivo que abriga as entidades especializadas de âmbito nacional no Conselho Federativo Nacional – CFN, e, como decorrência do crescente aumento, aprovou, em 2014, a criação do Conselho Nacional das Entidades Espíritas Especializadas da Federação Espírita Brasileira – CNE-FEB, como órgão de apoio técnico ao Movimento Espírita Brasileiro.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Numa sociedade mercadológica/mercantil em que eventos espíritas “grandiosos” e pagos em geral se apresentam em números cada vez maiores, qual deve ser a atitude da FEB? 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - A de prudência e respeito, sem conivência, mas orientada pelo Evangelho.

    Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Suas palavras finais. 

    Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Agradeço a oportunidade, desejando que estejamos sempre irmanados numa doce aliança de fraternidade e paz inabaláveis sob o amparo de Ismael e de Jesus.

    (*) Nota do entrevistador: a posição do atual presidente da FEB no tocante à obra de Roustaing, s.m.j., não é aprovada pela ampla maioria dos espíritas brasileiros que a conhece e sequer é adotada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB e pelo Conselho Nacional de Entidades Especializadas da FEB.

    domingo, 17 de maio de 2015

    A marcha ascendente dos antepassados do homem (JORGE HESSEN)

    JORGE HESSEN
    jorgehessen@gmail.com
    Brasília, Distrito Federal (Brasil)









    (*) Artigo publicado na Revista "O Consolador"
    Link http://www.oconsolador.com.br/ano9/414/especial.html



    Será que os chamados homens da “caverna” tinham consciência íntima? “Pesquisadores da Universidade de York descobriram que o homem de Neanderthal nutria um grande sentimento de compaixão. A conclusão adveio através das evidências arqueológicas e da observação sobre o modo como as emoções emergiram em nossos antepassados há seis milhões de anos, quando o ancestral comum dos homens e dos chipanzés vivenciou o despertar dos primeiros sentimentos. Para os arqueólogos, cerca de 1,8 milhão de anos atrás, o Homo erectus integrou o sentimento de compaixão com o pensamento racional através de ações como cuidar dos doentes e dedicar atenção especial aos mortos, demonstrando luto e desejo de suavizar o sofrimento alheio.”(1)



    Cremos que as sepulturas datadas da era paleolítica comprovam já haver naquele período uma crença na vida após a morte e no poder ou influência dos ancestrais sobre a vida cotidiana do grupo familiar. Os integrantes do clã obrigavam-se a praticar ritos em homenagem a seus mortos pelo temor a represálias ou pelo desejo de obter benefícios, ou ainda por considerá-los seres divinizados.


    Questão instigante é como o primata se tornou hominídeo. A resposta é ainda uma incógnita. Ainda não foi encontrado o "elo perdido", a espécie biológica que represente essa transição. “Pode-se dizer que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual de Espíritos mais adiantados [que os antropoides], o envoltório se modificou, embelezou-se nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto. Melhorados os corpos, pela procriação, deu-se origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito progrediu.”(2)

    Allan Kardec explica que "desconhecemos a origem e o modo de criação dos Espíritos; apenas sabemos que eles são criados simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento, porém perfectíveis e com igual aptidão para tudo adquirirem e tudo conhecerem”.(3) O Espírito André Luiz argumenta que “para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser automatizado em seus impulsos, no caminho para o reino angélico, despendeu nada menos que um bilhão e meio de anos”.(4)

    Muitas das transformações que se verificaram no “homo” foram promovidas em suas estruturas perispirituais, entre uma existência e outra (ou seja, na dimensão espiritual). Os Espíritos construtores, sob a supervisão do Cristo, retocavam, em vezes sucessivas, as formas perispiríticas, e estas alterações criariam o campo magnético para as futuras mutações. Experiências múltiplas, no patrimônio genético dos nossos antepassados, coordenadas por geneticistas siderais, foram modelando aquelas formas que deveriam persistir até os tempos atuais. A seleção natural se incumbiria de fazer desaparecer as formas primitivas inaptas. 

    Linhagem definitiva para todas as espécies 

    Conforme afirma Emmanuel, atualmente a ciência procura os legítimos antepassados das criaturas humanas nessa imensa vastidão da arena da evolução anímica. “No período terciário(5), sob a orientação das esferas espirituais, notavam-se algumas raças de antropoides, no Plioceno inferior [de 5,3 milhões a 1,6 milhão de anos]. Esses antropoides, antepassados do homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo, tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do chimpanzé da atualidade.”(6)

    Para o autor de “Renúncia”, não houve propriamente uma "descida da árvore" no início da evolução humana. “As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a orientação do Cristo, estabeleceram, na época da grande maleabilidade dos elementos materiais, uma linhagem definitiva para todas as espécies, dentro das quais o princípio espiritual encontraria o processo de seu acrisolamento, em marcha para a racionalidade.”(7)

    Os antropoides das cavernas espalharam-se então aos grupos pela superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as influências do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus tipos diversificados; a realidade, porém, é que as entidades espirituais auxiliaram o homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas.

    Os milênios correram o seu toldo de experiências drásticas sobre a fronte desses seres de “braços alongados e de pelos densos, até que um dia as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo perispiritual preexistente dos homens, surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada, tendendo à elegância dos tempos do porvir”.(8) 

    O tema da morte e “civilização” 

    O Homem só começa a ser Homem quando começa a enterrar seus mortos, diz-nos o historiador Aníbal de Almeida Fernandes, em "A Genealogia como fator básico na formação da Civilização", e conclui: É o marco divisório entre o animal e o primeiro homem, e ocorreu há cerca de 40.000 anos com o Homo Sapiens e o Homo Neanderthal, antes mesmo da agricultura, e é o início da história humana. O sentimento de cultuar os mortos foi moldado, pois, a partir de época bem remota e está sedimentado em quase todas as tendências religiosas.

    As comunidades primitivas, agropastoris, inclinadas ao culto agrícola e ao culto da fertilidade, acreditavam, originariamente, que, em sepultando seus mortos nas proximidades dos campos agrícolas, os Espíritos desses cadáveres ressurgiriam à vida com mais vigor, quais sementes plantadas em solo fértil, mas acreditavam que isso se daria como algo secreto e misterioso. Com essa crença, reverenciavam-se os mortos próximos às tumbas, com festas e, sobretudo, com muita alegria, prática que se estendeu viva em algumas culturas contemporâneas.

    Os costumes dos povos primitivos foram-se modificando devido à influência de outros, vindos, provavelmente, do Norte da África (os Iberos) e do Centro da Europa (os Celtas). Veja-se o que nos revela um dos expoentes da Doutrina Espírita: "É dos gauleses que vem a comemoração dos mortos (...) só que, em vez de comemorar nos cemitérios, entre túmulos, era no lar que eles celebravam a lembrança dos amigos afastados, mas não perdidos, que eles evocavam a memória dos Espíritos amados que algumas vezes se manifestavam por meio das druidisas e dos bardos inspirados".(9)

    Ressalte-se, aqui, que os gauleses evocavam os ancestrais mortos (divindades) nos recintos de pedra bruta.

    As druidisas (sacerdotisas) e os bardos (poetas e oradores inspirados) eram verdadeiros "médiuns" e somente eles tinham consentimento para consultarem os oráculos (na Antiguidade, resposta de uma divindade a quem a consultava). Os gauleses, portanto, não veneravam os restos cadavéricos, mas a alma sobrevivente, e era na intimidade de cada habitação que celebravam a lembrança de seus mortos, longe das catacumbas, diferentemente dos povos primitivos. 

    Advento dos forasteiros cósmicos 

    De onde vieram tais Inteligências? Elucida o Espírito Emmanuel que “há muitos milênios, um dos orbes da Capela(10), que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos”.(11)

    As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, “deliberam, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores. Aqueles seres angustiados e aflitos seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes”.(12)

    A Natureza ainda era, para os trabalhadores da espiritualidade, um campo vasto de experiências infinitas; tanto assim que, “se as observações do mendelismo fossem transferidas àqueles milênios distantes, não se encontraria nenhuma equação definitiva nos seus estudos de biologia. A moderna genética não poderia fixar, como hoje, as expressões dos "genes", porquanto, no laboratório das forças invisíveis, as células ainda sofriam longos processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos de astralidade, consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às organizações do porvir”.(13) 

    Solidariedade selvagem? 

    Apostam os arqueólogos que no interregno de 500 mil e 40 mil anos, o sentimento evoluiu e os primeiros seres humanos, como o Homo heidelbergensis e o Neanderthal, já demonstravam compromisso com o bem-estar dos outros, o que pode ser comprovado através de uma adolescência longa e a dependência em caçar juntos. Cremos que "não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio a milênio".(14) Com a conquista da razão, aparecem o raciocínio, a lucidez, o livre-arbítrio e o pensamento contínuo. “Até então, o progresso tinha uma orientação centrípeta [de fora para dentro]; o ser crescia pela força das coisas, já que não tinha consciência de sua realidade, nem tampouco liberdade de escolha. Ao entrar no reino hominal, o princípio inteligente – agora sim, Espírito – está apto a dirigir a sua vida, a conquistar os seus valores pelo esforço próprio, a iniciar uma evolução de orientação centrífuga [de dentro para fora].”(15)

    Mas a conquista da inteligência é apenas o primeiro passo que o Espírito vai dar em sua estada no reino hominal. “Ele iniciou na valorosa luta para conquistar os valores superiores da alma: a responsabilidade, a sensibilidade, a sublimação das emoções, enfim, todos os condicionamentos que permitirão ao Espírito alçar-se à comunidade dos Seres Angélicos.”(16) Os sonhos premonitórios, as visões de Espíritos, a audição da voz dos mortos, inclusive nos fenômenos de voz direta, e a materialização de Espíritos foram fatos concretos, que levaram o homem primitivo à crença na continuação da vida após a morte.

    Diretamente dos médiuns neandertalenses surgiram os feiticeiros, ancestrais dos sacerdotes de todas as religiões.(17) 

    Sentimento e humanização da Terra 

    Segundo um princípio sofista atribuído a Protágoras, "O homem é a medida de todas as coisas", mas uma medida por assim dizer afetiva, sem o controle da razão. Por isso Herculano Pires afirma que “é pelo sentimento, e não pelo raciocínio, que o homem primitivo humaniza o mundo”.(18) Destarte, ficam ratificadas as teses científicas sobre o homem pré-histórico que integrou o sentimento de compaixão na síntese do pensamento racional através de ações efetivas para o outro semelhante.


    Notas e referências bibliográficas: 
    (1) Publicado na Revista Galileu disponível no site.
    (2) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997, cap. 11, "Hipótese sobre a origem do corpo humano".
    (3) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, § 3º, 1ª Parte.
    (4) Xavier, Francisco Cândido e Waldo Vieira. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André                 Luiz, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994.
    (5) As designações terciário e quaternário são resquícios de uma nomenclatura geológica anterior, quando eram usadas para distinguir rochas mais recentes de outras, mais antigas, classificadas então como primárias e secundárias. O terciário subdivide-se em cinco épocas: paleoceno (de 66,4 a 57,8 milhões de anos), eoceno (de 57,8 a 36,6 milhões de anos), oligoceno (de 36,6 a 23,7 milhões de anos), mioceno (de 23,7 a 5,3 milhões de anos) e plioceno (de 5,3 milhões a 1,6 milhão de anos). O período quaternário subdivide-se, por sua vez, em pleistoceno (de 1,6 milhão a dez mil anos) e holoceno ou atual (os últimos dez mil anos).
    (6) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991.
    (7) Idem.
    (8) Idem.
    (9) Denis, Léon. O gênio céltico e o mundo invisível. Rio de Janeiro: Ed. CELD. 1995, p. 180.
    (10) Capela é magnífico Sol, inúmeras vezes maior que o nosso Sol. Dista da Terra cerca de 42 anos-luz. Conhecida desde a mais remota antiguidade, Capela é uma estrela gasosa, segundo afirma o célebre astrônomo e físico inglês Arthur Stanley Eddington, e de matéria tão fluídica que sua densidade pode ser confundida com a do ar que respiramos.
    (11) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991.
    (12) Idem.
    (13) Idem.
    (14) Idem.
    (15) Idem.
    (16) Xavier, Francisco Cândido e Waldo Vieira. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994.
    (17) Djalma Argollo. Estudos da Mediunidade antes da Codificação Kardequianahttp://www.espirito.org.br


    (18) Pires J. Herculano. O Espírito e o Tempo, Introdução Antropológica ao Espiritismo, São Paulo: Edicel, 1979, 3ª edição.

    sábado, 16 de maio de 2015

    A nova “esquina de pedra” (Antonio Cesar Perri de Carvalho)


    Antonio Cesar Perri de Carvalho


    O inolvidável Wallace Leal V.Rodrigues publicou em 1975 a portentosa obra A esquina de pedra. Fundamenta-se em textos de Job, dos Salmos e de Isaías, respectivamente, sobre a “pedra de esquina”, “a cabeça da esquina” e a “pedra preciosa de esquina”. Passa por Atos: “Esta é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” (Atos, 4,11) e focaliza Pedro: “É uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (I Pedro, 2:6-8).

    O autor romancea ou se recorda de fatos que se passam no período do imperador Constantino, focalizando momentos em que ocorreram as descaracterizações do Cristianismo primitivo e puro, época de muitos sacrifícios de cristãos e tendo como pano de fundo a benquerença do romano Prisco e da cristã Galla, em Sebastes, na região da Capadócia. Depois de muitas enxertias na prática rotineira dos cultos, “uma divergência ameaça dividir a igreja [...] a questão é esta: devemos considerar Jesus Cristo como um Deus que assumiu forma humana ou simplesmente como um homem que atingiu uma perfeição quase divina?” (1). Estavam às vésperas do Concílio de Nicéia: “Verás o Cristianismo desaparecer e ceder lugar a uma nova doutrina à qual denominarão Catolicismo” [...] Mas um dia o Cristianismo se erguerá das cinzas” (2) 

    Passados séculos, vivemos o momento do “reerguimento das cinzas”. A marcante Codificação Espírita e obras clássicas marcaram presença, bem como exemplos de dedicação e de renúncia de lidadores de um autêntico “exército de formiguinhas”. O Movimento Espírita brasileiro cresceu, mas ao mesmo tempo está cheio de ideias e ações personalistas e que representam um grande potencial para se desfigurar a proposta essencial da Doutrina Espírita, calcada no ensino moral do Cristo.

    Evidentemente que tudo tem seu momento e dosagem. Os cursos foram e são necessários, mas é notório um excesso de “escolarização”, de requisitos e de pré-requisitos. O potencial trabalhador tem dificuldade de se integrar com espontaneidade nos centros espíritas. A própria mediunidade está “engessada” e há espíritas e centros que nem contam com a atuação de médiuns porque estes se tornaram quase de “especializados” e raros. Se se somar a quantidade de anos desde os momentos iniciais dos ciclos de infância e juventude, até os demais cursos, ultrapassa-se o tempo de formação de um profissional de nível superior. É hora de se fazer um reestudo sensato e sério de todo o processo.

    Numa série de quatro seminários intitulados “Educação & Atividades Espíritas” realizados na FEB em 2014 e no início de 2015, concluiu-se que há necessidade de algumas mudanças que possam levar a transformações, como: “criar espaços interativos e dialógicos nos encontros de aprendizagem (mais conversa, menos exposição; os participantes têm muito com que contribuir); organizar espaços de aprendizagem atrativos e diversificados (jardins, excursões, visitas culturais e assistenciais); promover mais momentos informais de confraternização; conhecer o perfil do grupo e considerá-lo na escolha de abordagens didático-pedagógicas, as quais devem ser criativas e diversas; desenvolver acolhimento e zelo nas relações interpessoais; abordar o conhecimento doutrinário como apoio à transformação moral e social e não como um fim em si mesmo; considerar os saberes anteriores e atuais dos participantes no desenvolvimento do conteúdo; desenvolver acolhimento e zelo nas relações interpessoais; abordar o conhecimento doutrinário como apoio à transformação moral e social e não como um fim em si mesmo; considerar os saberes anteriores e atuais dos participantes no desenvolvimento do conteúdo; trabalhar com problemas e não somente com temas”.(3)

    Ou seja, há necessidade de se trabalhar não apenas em nível cognitivo, mas com os valores e sentimentos.

    Por outro lado há uma exagerada comercialização dos chamados “produtos espíritas”, como os livros, e, muitas instituições perdendo o caráter espírita, inclusive no texto do Estatuto, para manterem convênios com governos.

    É chegado o momento para se realizar estudos e profundas reflexões sobre o Movimento Espírita: o que pretendemos? Para onde vamos?

    Valores como os da simplicidade, fraternidade e solidariedade legítimos andam pouco valorizados. Nos centros espíritas, como anda o atendimento espiritual dos que chegam, como o acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação?

    Entre as importantes Obras Básicas de Allan Kardec, O evangelho segundo o espiritismo é utilizado para estudos e reflexões, com vistas à internalização e roteiro de vida ou simplesmente empregado como “leitura preparatória” de reuniões ou temas de algumas palestras?

    Vivemos a época do “Consolador Prometido” pelo Cristo e será que não estaríamos correndo o risco de que o “Cristianismo que se erguerá das cinzas” se comprometer como uma “uma pedra de tropeço e rocha de escândalo”? 

    Interessante é que na história, há registro do ex-doutor Saulo de Tarso, ao visitar a Casa do Caminho após suas conversão sentiu-se “torturado pela influência judaizante. Tiago dava a impressão de reingresso, na maioria dos ouvintes, nos regulamentos farisaicos. Suas preleções fugiam ao padrão de liberdade e do amor em Jesus Cristo” (4) e optou em deixar a tradicional e pioneira ecclesia de Jerusalém, iniciando sua grande tarefa de divulgador do Evangelho. Quase dois milênios depois, Chico Xavier optou em deixar a Comunhão Espírita Cristã, de Uberaba, da qual foi um dos fundadores, e deu início a um novo e simples ponto de referência: o Grupo Espírita da Prece, de Uberaba.

    Em nossos dias, são muito necessárias profundas reflexões e análises sobre os rumos do Movimento Espírita, sendo sugestivas as ilustrações da “esquina de pedra”, o rompimento com o farisaísmo feito por Paulo e a opção pela simplicidade de Chico Xavier.

    Referências:
    1)      Rodrigues, Wallace Leal V. A esquina de pedra. 9. ed., Cap. XIII. Matão: Ed. O Clarim, 2009. p. 139.
    2)       Rodrigues, Wallace Leal V. A esquina de pedra. 9. ed., Cap. XXIX.  Matão: Ed. O Clarim, 2009, p.399.
    3)       http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/material-do-seminario-educacao-atividades-espiritas/ (acesso em 23/03/2015).
    4)      Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. 1. ed.esp. 2ª. parte, cap. III, Brasília: FEB, 2012, 257.

    Transcrito de:
    Revista Internacional de Espiritismo, Ano XC, No.4, maio de 2015, p. 182-183.

    segunda-feira, 11 de maio de 2015

    ACELERADO DESMORONAMENTO DOS VALORES CRISTÃOS (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
    COLEÇÃO DE LIVROS GRATUITOS.

    Objeto sexual dos homens, as mulheres sempre estiveram presentes na história, ora como heroínas, ora como prostitutas, quase sempre como prostitutas, mesmo sem sê-las, sempre que rompiam certos primados moralistas e colocavam em cheque o poder masculino. A partir do término da Segunda Guerra Mundial a sensualidade e o corpo da mulher foram cada vez mais expostos, até chegar à nudez completa em teatros, televisão, cinema e revistas, quando não em público comum.

    Atualmente, tal como das drogas, o negócio da prostituição é um dos mais lucrativos mercados da história. Larry Flynt, empresário e dono do império Hustler, retratado por Milos Forman e Oliver Stone no filme "O povo contra Larry Flynt”, Bob Guccione, da revista Penthouse e Hugh Hefner, dono do Império Playboy, compõem alguns desses milionários da exploração da fantasia sexual. Obviamente, uma fatia gigantesca desse mercado é dominada pelo crime organizado.

    Ultimamente algumas garotas de programa na Austrália, onde a prostituição é legalizada, estão perdendo a inibição e assumindo abertamente sua profissão nas redes sociais, na tentativa de desmistificar noções preconcebidas sobre elas. Muitas são estudantes universitárias que se assumiram publicamente como profissional do sexo, postando fotos para mostrar seus rostos ao mundo. Para algumas delas, era a primeira vez que se assumiam publicamente, nas redes sociais, como prostitutas. [2]

    Não nos cabe julgar este ou aquele que comete qualquer inadvertência moral, mesmo porque, com certeza, já estivemos nos dois lados da moeda, contudo não é incabível assentarmos nossos precários conhecimentos doutrinários em exercício prático. Urge vivenciarmos o Evangelho fora dos arraiais espíritas. Instruir nossos filhos sobre a responsabilidade de uma comunhão afetiva. A respeitabilidade do ato sexual. A consideração pelo sentimento do próximo. Respeito por si próprio.

    A disposição de tornar-se prostituta é de foro íntimo da mulher que assim deseja e não nos interessam seus pretextos, é responsabilidade dela, tanto quanto é responsabilidade dos fregueses que a sustentam e estimulam para o comércio sexual do próprio corpo. Sem esconder-nos por trás de uma falsa máscara de tolerância, lembramos que uma prostituta é alguém que passa por sérias amarguras e obviamente deve ser tratada sem preconceitos a fim de seja auxiliada a reencontrar o caminho do equilíbrio.

    Profere o Espírito Emmanuel o seguinte: “qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, a prostituição (...) ainda permanece, na Terra, por instrumento de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida”. [3]

    Antes da vinda do Cristo já havia a prostituição no Planeta, porém não era admitida pela religião (que até mesmo condenava a lapidação da mulher), para refrear a sua ampliação. O comércio constituído dos prazeres sexuais não surgiu originariamente das mulheres, mas, sim, dos homens. Sob o aspecto pernicioso à digna finalidade do sexo, na condição básica de formação familiar, a prostituição, como estigma social, só é consentida do ponto de vista do direito ao direcionamento às manifestações do livre-arbítrio feminino, atentatórias ao completo respeito à lei de procriação, a que tragicamente conservam-se desatentos o homem e a mulher.

    Creio que o reconhecimento da prostituição como trabalho ainda não foi efetivado no Brasil. Salvo qualquer engano, parece que existe um projeto de lei sobre o assunto. Que, em síntese, permite que profissionais do sexo possam contribuir como autônomas/os para fins de seguridade social: auxílio doença, aposentadoria. Não tenho dúvida que a vida destes “profissionais” não é nada atraente. Comumente tais pessoas são levadas à prostituição em idades que não lhes permitem discernimento; Em regra, provenientes de famílias desestruturadas, vítimas de violência, ou forçadas a isto. 

    As prostitutas padecem muito mais com agressão sexista e preconceito social, na maioria das vezes não têm habilitação para profissões menos degradantes, e ainda padecem com a opressão provinda de exploradores, sejam familiares, companheiros, gigolôs ou titulares de bordéis. E ainda há o tráfico humano, onde quase todas as vítimas são meninas ou mulheres. Estudos afirmam que em sua maioria, mulheres prostitutas não o são por escolha, mas sim por desventura material. 

    No meretrício, ainda mais grave nos dias de hoje é a prostituição infantil. O incentivo a prostituição é absurdo. Homens ou mulheres vendendo-se nas avenidas de forma "alegre" e "divertida", choram o vazio que sentem por viverem à margem da sociedade. No Brasil há casos em que meninas de 10 a 12 anos, frequentadoras dos peculiares bailes funk (ambientes extremamente promíscuos), se prostituem. No nordeste há diversos casos de aliciamento de menores, muitas vezes abusadas pelos próprios pais. Obviamente, uma precoce atividade sexual induz a graves problemas: prostituição infantil e juvenil, aborto, lesão da autoestima, escravidão sexual, drogadição.

    “Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver sem pecado” [4] disse Jesus. “Esta sentença faz da indulgência um dever para nós outros, porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de condenarmos a alguém uma “falta”, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.” [5]

    Não podemos nos acomodar, porém, nem sequer nos omitir ante a onda de promiscuidades e corrupção moral. “Pensamento é fermentação espiritual. Em primeiro lugar estabelece atitudes, em segundo gera hábitos e, depois, governa expressões e palavras, através das quais a individualidade influencia na vida e no mundo”. [6] Nada justifica ficarmos indiferentes e imóveis diante do acelerado aniquilamento dos valores cristãos. Se descuidarmos da vigília, é certo que resgataremos obrigatoriamente à indiferença e inércia diante desse cenário preocupante do envilecimento do sexo.

    Referências bibliográficas:

    [1]Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150403_prostitutas_selfie_australia_pai acesso 07/05/15
    [2] Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo – Cap. “Adultério e prostituição”, ditado pelo espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2001
    [3] Mt 7: 1-2
    [4] Kardec, Allan. Evangelho segundo o Espiritismo, Capitulo X, item 13, RJ: Ed FEB, 2001
    [5] Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001.

    AMOR, UM SENTIMENTO POR EXCELÊNCIA (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen

    Diferentes pesquisadores creem que o “amor” procede das variações químicas do corpo. Será que o “sentimento por excelência” é uma patologia às vezes manifestada nas mãos suadas, perda de apetite, face enrubescida e batimento cardíaco acelerado? Ora, o amor vai muito além do cientificismo, do romantismo e do erotismo. A psicanálise, nos primórdios da teoria freudiana, colocou o problema do “amor” na dimensão do patológico. Em verdade, Freud teve de entrar no estudo e na pesquisa do “amor” pelos porões da psicopatologia. O aspecto patológico é o mais dramático do “amor” e o que mais toca o interesse humano.

    Consistirá o amor em diferentes estágios identificados nos grupos de substâncias químicas atuando no corpo físico? [1]A testosterona e o estrogênio alimentam a luxúria? Será que a atração sexual provém apenas da produção de dopamina, norepinefrina e serotonina? Será que a oxitocina, produzida pelo hipotálamo, uma glândula cerebral, e liberada tanto por homens e mulheres durante o orgasmo, consegue manter por longos anos uma união afetiva entre casais? 

    Hellen Fischer, uma das estudiosas do assunto, afirma que o amor tende a desaparecer em pouco tempo. Para ela a oxitocina “sensibiliza os nervos nas contrações musculares, porém o efeito dessas substâncias é pouco duradouro, resultando no esfriamento do amor e nas separações entre os casais, razão do grande número de divórcios”. [2]

    Nessa direção caminha Barbara Fredrickson, diretora do Laboratório de Emoções Positivas e Psicofisiologia da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill [EUA], que sugere novo conceito sobre o amor, baseado no arranjo biológico. Para ela a ideia do amor eterno é um mito e uma impossibilidade fisiológica, pois o “amor” é fugaz. Trata-se tão-somente de “micromomentos de ressonância de positividade”. Barbara destaca três protagonistas-chave no microcenário do amor. O primeiro é o cérebro, ou, mais precisamente, os neurônios-espelhos. O segundo é a oxitocina, produzida no hipotálamo, para ela um hormônio vinculado ao “amor” e ao “afeto”. O terceiro é o nervo vago, que liga o cérebro ao resto do corpo, e em especial ao coração – isso torna a pessoa mais amorosa e aumenta suas conexões positivas. [3]

    Não se pode definir amor como se fosse a abrasadora paixão que provoca os desejos carnais. Esta não passa de uma imagem de um grosseiro simulacro do amor. Nos dias de hoje, fala-se e escreve-se muito sobre sexo, sensualismo, erotismo; raramente sobre amor. Certamente, porque o “sentimento por excelência” não se deixa decifrar academicamente, repelindo toda tentativa de definição científica.

    O Espiritismo demonstra que a natureza nos deu a necessidade de amarmos e de sermos amados. Um dos maiores encantos que nos são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o nosso simpatizem. “Dá-lhe ela [a natureza], assim, as primícias da felicidade que nos aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade.” [4] Paulo de Tarso, escrevendo aos filipenses, informou que “o amor deve crescer, cada vez mais, no conhecimento e no discernimento, a fim de que o aprendiz possa aprovar as coisas que são excelentes”. [5] Se atendermos ao conselho do Apóstolo dos Gentios cresceremos em valores espirituais para a eternidade, mas se rumarmos por atalhos escorregadiços, “o nosso amor será simplesmente querer e tão-somente com o “querer” é possível desfigurar, impensadamente, os mais belos quadros da vida”. [6]

    Léon Denis interpretou: “o amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as criaturas. Deus é o seu foco. Assim como o Sol se projeta, sem exclusões, sobre todas as coisas e reaquece a natureza inteira, assim também o Amor divino vivifica todas as almas; seus raios, penetrando através das trevas do nosso egoísmo, vão iluminar com trêmulos clarões os recônditos de cada coração humano”. [7]

    O Amor “resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. O ponto delicado do sentimento é o Amor, não o Amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas”. [8]

    O amor, um sentimento por excelência, é a dinâmica da vida, e a harmonia da Natureza é o remédio para todos os males que atormentam o homem. Tudo o que possamos idealizar sobre o amor pode se consubstanciar como parcela deste sentimento, mas ele é muito maior e mais abrangente, até porque o bem-querer, toda a bondade, a tolerância, a alegria, a proximidade, só poderão ser um fragmento do amor quando não tiverem laços no apego, na imperiosa necessidade de permuta, no egoísmo que exige sempre condições e regras.

    Referências bibliográficas:

    [1]Disponível em http://noticias.terra.com.br/ciencia/como-reconhecer-os-sintomas-do-virus-do-amor-em-seu-corpo%2cb7be999b9b88b410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html acesso em 07/05/15
    [2]Fischer , Helen. The Anatomy of Love, New York: Norton,1992
    [3]Disponível em http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/comportamento/o-amor-nao-e-eterno acesso em 01/03/2014
    [4]Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB ed. 2002, questão 983-a
    [5]Filipenses 1:9-11
    [6]Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, Cap 91, Problemas do amor, RJ: Ed FEB, 1999
    [7]Denis, Léon. O Problema do Ser do Destino e da Dor, RJ: Ed FEB, 2000
    [8]Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Lázaro. [Paris, 1862.] 112a edição. Livro eletrônico gratuito em http://www.febrasil.org. Federação Espírita Brasileira, 1996.