O autoperdão para libertar-se da
culpa (*)
Jorge
Hessen
Brasília-DF
A autoconsciência e o autoperdão são duas virtudes fundamentais para
a diluição da culpa. Porém, é necessário o treino do autoacolhimento
amoroso que precisa ser irrigado pelos cinco sentimentos básicos, a
saber: autoestima, autoaceitação, autoconfiança, autovalorização e
autorrespeito. Esse exercício viabiliza a nossa autorrenovação por amor e
pelo amor. Mas a manutenção do estado culposo impossibilita tudo isso.
Somente o autoperdão nos libera para a reabilitação diante
da consciência, se assumirmos a responsabilidade do erro e nos esforçarmos
reflexivamente para repará-lo.
A vida são as oportunidades bem aplicadas no presente, no aqui e
agora, nunca os fracassos do passado. Todavia, existem os que vivem
interligados aos insucessos do ontem, agindo qual aqueles que querem
dirigir o automóvel apenas olhando para o retrovisor; com certeza vão
causar acidentes. Não se pode permanecer preso às negatividades do passado, é
importante ficar atento às oportunidades de cada momento do presente (que
é um empréstimo divino que se renova a cada instante).
Esquecer os malogros do passado não significa “não lembrar”, contudo
é resignificá-los. Deste modo, embora possa parecer que esquecemos, em verdade,
deixamos a recordação num plano não acessível de modo consciente. Ou seja, não
ficarmos remoendo o que já passou, porém o que se culpa fica incessantemente
remoendo o erro cometido.
Quando nos libertamos do detrito mental, amontoado pelo estigma
culposo, principiamos o soerguimento espiritual, e toda uma atividade nova se
nos apresenta favorável, abrindo-nos espaços para saúde integral. O lixo mental
que herdamos é acumulado pela nossa ausência de conhecimento nos três níveis de
ignorância: do não saber, do não sentir e do não vivenciar a
verdade. São tais ignorâncias que produzem os entulhos mentais, os insucessos e
a fragilidade do Espírito de não se esforçar para superar a própria ignorância.
Considerando nossa fragilidade, precisamos nos conceder a
oportunidade de reparar os males praticados, nos habilitando sempre perante a
consciência através do autoperdão mormente diante daqueles a quem prejudicamos.
Isso não significa anulação da falta que cometemos, porém a concessão da
oportunidade de reparação dos desacertos. Portanto, o autoperdão não se
funda numa falsa tolerância desculpista dos próprios erros. Isso seria
desmazelo moral, cumplicidade e ingenuidade. Antes, o autoperdoar-se
representa a possibilidade de crescimento mental e moral, propiciando
direcionamento correto das novas escolhas para o bem-estar pessoal e coletivo.
É impossível alguém melhorar o comportamento da noite para o
dia. É indispensável o esforço de enriquecimento moral ininterrupto. O
autoperdão é um processo de autorresponsabilidade, fruto do amadurecimento do
senso intelecto moral. Com a disposição contínua de reparação dos erros,
ampliamos as virtudes através dos graduais esforços no exercício do bem,
admitindo que nesse procedimento não nos tornaremos “puros” num piscar de
olhos, porquanto ainda erraremos muitas vezes; porém nunca nas mesmas
proporções anteriores, porque aprenderemos e cresceremos com os nossos erros.
Quando nos perdoamos, aprendemos a pedir perdão ao outro. A coragem
de solicitar perdão e a capacidade de perdoar são dois mecanismos terapêutico-libertadores
da culpa. Até porque a saúde mental e comportamental impõe a liberação da
culpa, utilizando-nos do valioso contributo do discernimento capaz de avaliar a
qualidade das ações e permitir as reparações dos erros e o estado de gratidão
quando acertadas.
O equilíbrio entre consciência e comportamento tem um preço: a
persistência no dever moral, como aguilhão da consciência e guardião da
probidade interior. Em face disso, para nos livrarmos da culpa é muito
importante o esforço continuado, paciência e perseverança no dever
consciencial. Não nos consintamos abater o ânimo, reabasteçamo-nos nas conexões
e diálogos íntimos com Deus através dos sentimentos e pensamentos edificantes
que podemos aperfeiçoar em qualquer circunstância.
Façamos os esforços necessários para expandir os pensamentos
elevados que devemos cultivar em qualquer situação. Seremos sempre responsáveis
pelos efeitos dos nossos atos. Colheremos conforme semeamos. Assumamos,
portanto, o nosso compromisso consciencial através do convite amoroso de Jesus. Dessa
forma permaneceremos saudáveis intimamente, prosseguindo íntegros nos deveres
assumidos, sempre sob a responsabilidade da ação transformadora, sem jamais
transferir para terceiros os nossos próprios insucessos.
(*)
Texto com base no Projeto Espiritizar contido no link https://www.youtube.com/watch?v=bGZG8m5bKxQ&t=3430s