Selfies associadas
às carências afetivas (Jorge Hessen)
Jorge
Hessen
jorgehessen@gmail.com
Três jovens da cidade de
Xinguara, no norte do Piauí, caíram de uma ponte ao tentar tirar uma foto no
dia 22 de abril de 2018. De acordo com a polícia local, as garotas tentavam
fazer uma selfies quando
a lateral da ponte desabou, fazendo com que elas despencassem de uma altura de
10 metros, fraturando as pernas e pés. A ponte passa sobre o rio Cais e é
utilizada como linha férrea, apesar de degastada com o tempo. As adolescentes
estavam tirando selfies no
local, quando a plataforma da lateral desabou com elas. [1]
Essa não é a primeira vez que uma
tentativa de selfies termina
mal. Na Rússia, o governo chegou a criar um manual para evitar novas mortes por
esse motivo. Entre as indicações há a exibição de riscos ao subir em pontes,
parar no meio da rua ou mesmo se esticar em uma plataforma de trem.
Uma pessoa de bem consigo mesma,
na maioria das vezes, posta selfiess com
imagens mais espontâneas, ao invés daquelas estrategicamente montadas e
editadas. Pessoas mais desatentas tendem a postar selfiess às vezes mais erotizadas e
exibicionistas, com o intuito de receber o maior número de “curtidas”, e
com isso obterem uma falsa percepção de que são “amadas”.
Há aqueles que fazem selfiess nas
academias retratando os corpos “sarados”, e se não tiverem “curtidas” e
“comentários” ficam frustrados, deprimidos e aumentam os exercícios para
esculturar o visual. Há, sem dúvida, alguns transtornos que podem estar
associados ao comportamento descontrolado da produção desses selfiess, como depressão, fobia social, transtorno
afetivo bipolar e transtorno dismórfico corporal [2]. Tais transtornos trazem prejuízos concretos à vida do
indivíduo, como isolamento social, anorexia, bulimia, automutilação e, no
extremo, até suicídio.
Nesse sentido, o vício de tirar centenas de selfiess não é uma
prática recomendável, até porque a “auto representação seletiva” não aumenta a
autoestima e nem a autoconfiança. Normalmente, carências afetivas são as
principais causas da necessidade de se expor, de chamar a atenção. Quando não
preenchidas, comumente provocam situações psicopatológicas extremas.
Há pessoas (alucinadas) que vão
tirar selfies próximas
a animais ferozes, subindo no trilho de um trem, equilibrando-se no parapeito
de uma ponte, nas culminâncias das torres ou ainda nos pontos mais altos de
edifícios gigantes, que aliás têm sido uma das "modas" mais perigosas
dos últimos tempos, e isso tem trazido consequências graves.
A tecnologia de registro de
imagens precisa estar a nosso favor e a benefício da sociedade. Que tal se, em
vez de postar constantemente o próprio retrato, postássemos imagens com
informações culturais ou compartilhássemos projetos sociais importantes? Isso
sim seria muito útil à sociedade. Obviamente não será através da postagem de
milhares de fotos de si mesmo que se estará colaborando com a melhoria da vida
no planeta.
O sentimento de inferioridade ou
de baixa autoestima associa os viciados nas selfiess a uma auto exposição exagerada, a uma
autonegligência ou desmazelo das coisas pessoais. O nosso avanço espiritual
consiste, exclusivamente, na forma de vermos a vida, e isso nada mais é do que
a demonstração de uma nova visão otimista de nós mesmos e do mundo ao nosso
redor.
Pensemos nisso!
Referências:
[1]
Disponível em https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/tres-jovens-caem-de-ponte-no-piaui-ao-tirar-selfies-e-sofrem-fraturas.ghtml
acesso 24/04/2018
[2]
Termo usado para designar a discrepância ou diferença entre aquilo que a pessoa
acredita ser, em termos de imagem corporal, e aquilo que realmente é.